quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A dor da alma a gente cura com amor.


A notícia da aprovação da vacina e o início da campanha trouxe um balsamo, um certo respiro, nessa loucura que tem sido a vida num mundo pandêmico. 

Eu li em algum lugar que as pessoas estão mais tristes e solitárias neste período de medo do Covid_19.

 Eu não sei dizer se era um estudo científico confiável ou se era só bobagem de internet... Perdoem-me a preguiça, acabei não pesquisando a fundo. Penso até que concordei de cara com tal percepção e não quis nem desmenti-la.  

Vi postagens que diziam: "Os relacionamentos se desfizeram durante a pandemia" , "Relacionamentos que não sobreviveram a 2020" ou  "O mundo está mais triste e que a taxa de suicídio mundial aumentou durante a pandemia". 

Parece que tudo isso foi resultado dessa vida meio sem viver... Nós estamos mais tristes? 

Fiquei pensando que para as dores físicas, na maior parte dos casos, um analgésico basta. Nas dores emocionais terapia é o recomendado. E as dores da alma?

As dores do coração partido parecem atingir um nível além, serem tão profundas que parecem ter raízes grossas.  Parece que elas nunca irão embora...  Não há morfina que resolva um coração partido!  

Prova disso foi a comoção de milhares de pessoas pelo divórcio de alguns famosos. As pessoas sentiram proximidade e compadecimento pela mulher absurdamente linda que foi deixada pelo cantor sertanejo. Em outro caso, os fãs parecem nunca superarem #brumar... Por que a gente se compadece tanto com o coração partido alheio?

Será que isso acontece por que sabemos que não há remédio para analgesiar essa dor ?  Saber que o amor é território de dois e que não existem garantias de "felizes para sempre" para ninguém, nem para eles e nem para nós... Saber disso nos torna mais empáticos à dor do outro?

Não existe tratamento precoce e nem vacina para dores de amor, para os amores mal resolvidos, nem para os amores que nunca foram correspondidos, àqueles que ficaram apenas no coração de um só.

Dizem que um novo amor desmente o outro. Eu não sei se é isso. O que sei é que existe um buraco no coração de quem foi rejeitado, traído, abandonado e até de quem tomou a decisão de ir embora quando ainda não queria.

 E o buraco dói. 

Há momentos em que a dor irradia para todo o corpo e mata toda a produção de endorfina, o ânimo, a alegria e até a vontade de se alimentar.

Repito que o problema é o buraco! Não é uma questão de memórias, aquela de querer reviver o que foi vivido. É a dor pelas coisas que não acontecerão. É o luto por aquilo que não virá!

Poderíamos até apagar as memórias, não nos lembrarmos mais de planos, sonhos e de momentos vividos. Ainda assim, sentiríamos. Porque a emoção é preponderante à nossa racionalidade e a razão não é capaz de analgesiar a dor da cratera do coração.  

É o buraco!  Ele precisa ser preenchido. Só para de doer quando ele é preenchido. 
Eu só conheço uma cura para o amor e ela é sempre mais  amor.

Nem sempre esse buraco é preenchido por outra pessoa. Às vezes é um trabalho, um projeto novo, um pet, uma criança, uma viagem...  Não é uma pessoa, mas uma emoção, um sentimento. É o sentimento  que remenda o buraco.

Quem sabe tenhamos a sorte de encontrar alguém, com o tamanho exato daquela parte que está faltando, para que a dor vá embora.
 A cura chegará com essa pessoa disposta a ocupar aquele vazio, mas também pode chegar amando outra ou outras coisas.

 Não sabemos quem irá costurar o nosso buraco. Mas alguma coisa precisa entrar ali no espaço vazio.

Talvez seja uma coisinha que venha pequeninha, mas que vá crescendo e se acomode confortavelmente ali em nosso coração.

Essa coisa, ou esse alguém, é o amor... 
E se o amor gostar de ficar ali, talvez fique para sempre... 




quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Por que ler " A Hora da Estrela " de Clarice Lispector? Não é bonito e nem gostoso.

 Como gostar de algo que nem é gostoso ou bonito? A arte é assim, importa é causar-nos algo!


Perdão, queridos leitores , por expressar aqui a minha opinião que talvez seja até um pouco absurda frente ao amor que temos por Clarice.
 Talvez seja o MEU problema antigo com romances psicológicos, fluxo de consciência, essa coisa do narrador que conversa conosco e também a minha dificuldade  com novelas.
Enfim, não me odeiem! Se digo que esse não é um livro bonito, não estou dizendo (de maneira nenhuma) que seja um livro feio.
Prefiro dizer que é um livro essencial! Assim como Clarice! 
É uma prosa sofisticada, elaborada , mas com simplicidade. Cheia de inventividade e de estímulos aos nossos sentidos. 
Talvez o meu texto até faça algum sentido para quem já leu "A hora da estrela", ou cause imensa revolta. Eu não sei.
Agora, eu apenas me sinto como o Rodrigo , o personagem narrador, com aquela necessidade de falar dessa novela, "senão eu explodo" .
 Provavelmente meu texto terá spoiler, não leia!
Se eu amei esse livro? Não! Mas se precisava tê-lo lido (após 3 tentativas) e se recomendo a outras pessoas? Sim! Mil vezes sim!
A hora da estrela não chega a 100 páginas, mas não é um livro sem pausas, daqueles que dá para ler numa tacada só. O livro é cheio de confusão, reflexão, estímulos e ansiedade, como a mente da própria autora e dos gênios da literatura.
Não é uma história encantadora, chega a ser chata em alguns momentos. Não pela falta de tempero de Macabea, mas pela confusão do próprio Rodrigo (Clarice) e por todas as suas justificativas da dificuldade de escrever a história e de traduzir a personagem.
É a história da moça Macabea, Alagoana ,pobre, virgem, mal-tratada pela tia,que vai morar no Rio de Janeiro, só se alimenta de cachorro quente e coca-cola e que arruma um emprego de datilografa. Não podemos nem dizer que é a história de uma moça sofrida, porque Macabea parece não perceber o quão triste é ser Macabea.

É a história do Não-ser, a história de uma NEM! Ela não é nem bonita, nem refinada, nem inteligente, nem amada, nem engraçada, nem tem dinheiro, nem tem nenhuma grande virtude que se destaque; mas também não tem revolta e nem um grande defeito para que a odiássemos. 
. Ela parece NEM ter consciência do que é ou não é, mas até que ostenta um certo orgulho em ser virgem e datilógrafa.
Um final que eu desobedientemente odiei... Apesar dele fazer todo sentido. Sei que esse final Epifânio tem seu valor e sou eu quem tenho problemas com esse desfecho. Mas confesso que eu fiquei esperando pelo momento do triunfo, da glória, dos vestidos de cetim, dos cremes em potes que davam vontade de comer e de um amor apaixonado para Macabea.
No entanto, penso que o grande triunfo, o estrelato mesmo, desse livro está na emoção que ele nos causa, que transcende a reflexão que a Clarice propõe sobre as milhares da Macabeas do Brasil. 
Leia sim " A hora da estrela", não para ter um encontro delicioso com uma grande história, mas para ter se encontrar deliciosamente com uma grande escritora.