Quem frequenta ao blog sabe que sou louca por qualquer espécie de cafeteria, e inclusive casas de chá. Eu amo livros que tenham como cenário principal, locais como esse. Somado a isso existe o meu forte interesse por livros que se passam no Afeganistão. Dificilmente eu resistiria a um livro como esse, mesmo que não soubesse nada dele antecipadamente. E foi exatamente o que aconteceu.
Eu já li alguns livros sobre mulheres muçulmanas, sobre a cultura árabe e sobre o Afeganistão. Posso dizer que é muito difícil passar incólume a esse tipo de leitura. A gente sabe que esses livros vão falar de violência, opressão, sofrimento, muitas vezes, pobreza e, principalmente,vão falar de uma cultura muito difícil de ser compreendida ou justificada pelos ocidentais.
Quando você diz Sim a um livro desse estilo, é preciso estar ciente de que fazer algumas pausas para respirar, ou mesmo para refletir sobre esse mundo tão diferente e que nos parece tão surreal, será necessário.
Contudo, eu diria que esse é o primeiro livro desse estilo, que não me fez cair em prantos. Ler algo assim, sempre vale à pena, porque sempre aprendemos algo novo sobre a cultura do outro, e porque esses livros nos convidam a dar uma saidinha da nossa bolha e observar que o mundo é grande.
A autora Deborah Rodriguez, conseguiu escrever uma história linda, tocante, comovente e verdadeira, porém com uma vibe um pouco mais leve, mais bem humorada, mais otimista e eu diria com uma pegada até mais ocidentalizada.
Não que isso comprometa os detalhes ou a fidelidade na descrição do cenário político, da paisagem, dos costumes e da cultura árabe, quando comparo aos outros livros que já li.
A autora conhece muito bem a região, justamente porque viveu em Cabul, foi sócio-proprietária de uma casa de chá lá, além de dona de uma escola de beleza.
Mas, talvez o que fez com que essa história diferentemente das outras, ficasse tão mais leve e graciosa, em meu ponto de vista, tenha sido o mix de personagens Afegãos e estrangeiros convivendo juntos.
Essa é uma história que se passa na capital Cabul, apesar de não ter identificação de data, há indícios de que ela ocorra num período pós talibã, mas ainda bem próximo dessa "saída" do talibã em 2001.
Teremos Yasmina, uma jovem Afegã, grávida, que vivia no alto das montanhas, numa comunidade distante e rural, mas que é roubada por homens aos quais a família devia dinheiro. Seus raptores, após perceberem que ela está grávida a abandonam nas ruas violentas de Cabul. Ela representa a parte conhecida, mundialmente, da opressão e a dificuldade que as mulheres vivem nessa realidade, sob tais circunstancias .
Para esse mix ficar melhor, a autora colocou também, uma Afegã idosa, chamada Halajan, com uma visão moderna, até um pouco "rebelde" e mais feminista das leis sob as quais está subordinada. Eu diria que essa foi a minha personagem favorita do livro.
Teremos também a presença de Candace, uma americana rica e Isabel, uma jornalista Inglesa, bem determinada. Mas, nem só de mulheres vive essa história, teremos homens muito legais no enredo. Essa é uma história de amor. Comovente, tocante e na medida certa de humor, drama e paixão.
A linguagem fluida da autora, faz com que seja bem fácil avançar na leitura. Mas, volto a dizer, que o mix de personagens e personalidades, foi o que deu encantamento ao enredo.
Temos essas mulheres incríveis, com seus dramas, medos, coragem, lutas e frustrações. No entanto temos também homens incríveis, descritos com uma sensibilidade encantadora. Essa é daquelas histórias que conseguem criticar um sistema opressor e violento de mundo, mas que também são capazes de te tocar de uma maneira bonita e te solidarizar e encantar com as partes bonitas e delicadas de uma crença, religião ou modo de vida, mesmo que seja diferente do seu.
Sobre os personagens masculinos, creio que esse tenha sido o primeiro livro que li desse gênero, que não me fez odiar especificamente algum personagem masculino. Pelo contrário, aqui eles também são apaixonantes e aqui,(Thanks God) não temos um vilão específico, horrendo, odioso e opressor de mulheres. Há Afegão misterioso, Muçulmanos tradicionais, Idosos Apaixonados com mentes mais modernas, religiosos compreensivos, e até Americanos no maior estilo heróis hollywoodianos.
Essa pequena casa de chá em Cabul atende homens e mulheres, expatriados, funcionários da ONU e mercenários; todos em busca de um momento de paz em uma região onde a tensão paira no ar e uma bomba pode explodir a qualquer momento, mas também se torna o cenário para o encontro dessas cinco mulheres que, mesmo tão diferentes entre si, compartilham segredos e tornam-se amigas com uma relação extraordinária.
Gostei muito do final do livro. Eu já esperava que ele caminhasse para aquele desfecho, mas não foi um clichezão. Foi um final bacana, aceitável e gostoso de ler.
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